Folhas Soltas P4-1

São os teus gritos que não me deixam dormir, as tuas memórias que não me deixam descansar, os teus beijos, as tuas unhas cravadas nas minhas costas, o doce aroma do teu sangue na minha alma, o voares com as asas que te dei depois de ambos ter-mos morrido... É tudo isto e muito mais que num único pulsar faz as lágrimas dos meus olhos secarem e levarem para longe toda e qualquer esperança numa salvação encerrada agora apenas nos fragmentos incongruentes da minha memória e no gelado núcleo que dorme eternamente sob as há muito mortas flores que guardam este local onde te sepultei na ânsia de dar descanso ao que ambos sentimos.
Sim, são tristes estes dias que agora sei conduzirem de certeza ao vazio, que sei não serem a suave antecâmara do nosso reencontro, mas um prelúdio para o despertar da morte inconsciente através das antigas maldições que despertaram sentimentos proibidos e libertaram este veneno no meu inútil corpo já demasiado cansado de esperar que o cão negro decida adormecer em vez de arrastar consigo tudo o que já não és.
Transformei este cão vadio que uivava na escuridão, numa besta necrófila que se alimenta das tuas memórias para continuar vivo por entre os destroços da tua deificada inexistência.
... Mesmo que volte a ti, serás capaz de perdoar este velho cão pelos seus pecados?

Comentários

Enviar um comentário