Sonhar (Parte VIII)
De novo acordo numa noite sem rumo inicial. Sem barulho, sem ecos desta vez, só um silencioso despertar, um vagaroso abrir de olhos enquanto se habituam à penumbra. Apenas um precipício se estende à minha frente, um mar de possibilidades, e ao mesmo tempo um inexorável vazio...
No velho espelho, o cabelo de novo comprido, diz-me que talvez seja hora de despertar a velha fénix, cuja única função, é devorar sonhos para manter os pesadelos afastados, que talvez mergulhar não seja sempre boa ideia se as lágrimas dos outros mergulhos ainda não secaram...
E ainda assim... Avanço, porque não sei outra forma, porque a estagnação não se coaduna com o mar de chamas que sempre carreguei comigo, porque deixar o que sinto entorpecido é só abrir mais um rasgo na pele e esconder lá dentro algo que já nasceu amaldiçoado, porque até mesmo a dor... É só mais um passo na direcção ao futuro, a um futuro sem ti, sem a possibilidade de um sonho que de um momento para o outro me cresceu nas veias, e no correr do sangue encontrou espaço para existir.
Percebi que não te posso pedir que entendas o metal líquido que me corrompe as veias, nem tão pouco o ácido que é destilado a partir dele. Não te posso pedir que compreendas as chamas que se erguem por detrás de cada expirar, nem o porquê do frio não me tocar a pele enquanto o vento nocturno sopra. Não posso esperar que olhes para mim como mais que apenas uma vaga nota de rodapé na tua vida, nem posso pedir-te que me olhes no olhos e te deixes hipnotizar pela doença que me controla, e assim, acelero.
Não sinto o frio na pele desta vez, estou demasiado em brasa para conseguir sentir o vento que me devia arrepiar. Não sou nenhum príncipe montado num cavalo branco, mas ainda assim arranco em fúria para salvar... Não, para chegar ao que bem sei que não ser lado nenhum. Não que não exista um destino, mas sim que ele seja demasiado... Sonhado, para que possa sequer ser chamado de destino. E... São mais quilómetros que antes, uma estrada diferente, mais velocidade, um novo cavalo, musicas diferentes, rios diferentes...
E menos palavras... Demorei anos até saber o que eram palavras... Palavras reais, tangíveis, não apenas fragmentos do nada sobre o qual a irreal velocidade e sede da vida e morte se abatiam.
Isto porque existe nelas uma sublime, e tantas vezes fútil, temporária beleza, na forma como elas se perpetuam pelo tempo, existem todos os sentidos e sentimentos, ao mesmo tempo que existe também um vazio em que elas se tornam apenas construções de mãos mais merecedoras de ti que as minhas.
Porque com o passar do tempo as desaprendi e só agora as volto a descobrir de novo, durante e depois de ti, porque ainda perdura aquele aroma que senti quando me encostei a ti pela primeira vez, o aroma a insanidade e ao mesmo tempo a... Casa...
Muito vazio, se pode encontrar nas tuas palavras... O antes e o depois... dela.
ResponderEliminarTalvez porque... Só o vazio restou das chamas...
EliminarVazio e... Um caleidoscópio imenso de boas memórias e de sonhos e também a dor
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