Folhas Soltas P6-1

Ouve este grito desesperado de quem ainda te pede que estendas as asas e te precipites no vazio sem ter ilusões sobre o fim.
Ouve as lágrimas que caem sobre esta lâmina amaldiçoada e invocam noites mais negras que os seus intentos.
Ouve os lamentos de um coração gelado sem sangue por onde derramar as suas lágrimas, mas que teima em sangrar na mesma nem que sejam restos do gelo que ficou de fora dos espinhos que ainda se enrolam à sua volta.
Cala esta revolta que se espalha como uma negra tatuagem entre as marcas que deixaste nas minhas costas.
Cala a torrente de nada que brota sem limites das profundezas mais negras do que fomos e consome o que ainda resta de humano em mim.
Cala o bater descompassado  do núcleo ácido e devolve-me à quietude de ser antes de ti e da tua herança...
Acorda neste sonho que tenho e morre no sítio onde te encontras sem mim para que eu volte a viver na realidade do nós, sem sentir nada além do calor do teu corpo a adormecer os meus sentidos e devolve-me as cicatrizes das minhas asas. Apenas as cicatrizes, porque as asas eu quero que continuem a proteger o que ainda restar de ti, mas preciso das cicatrizes para alimentar o cão vadio que pretendo fazer renascer das memórias da incongruência enterradas e gravadas no metal gelado dos destroços da minha alma.
Tenho que o fazer voltar a uivar nas trevas pois ele é o único capaz de fazer com que a nossa combinação perdida das lâminas gémeas, obedeça aos impulsos das razão e não ao correr imutável do sangue.
Tenho que o fazer voltar, porque ele existiu através dos ciclos do tempo antes de ti, e é ele que me fará re-existir depois de ti.

Comentários

  1. O restará dela? O que irão as asas ainda proteger?

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    1. Memórias como sempre minha cara Pink, memórias e a vontade de sobreviver a tudo. Bj

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