Sonhar (Parte I)
No meu sonho acordo e tudo está escuro. Deixo-me ficar mais um pouco a olhar para as teias por cima da porta antes de olhar para o relógio. Estendo o braço para trás num ângulo que me deixa os músculos do pescoço a ponto de rasgarem e agarro o telemóvel. Sem som. Por isso é que não acordei antes. Sempre as mesmas chamadas, as mensagens previsíveis, enfim, os balidos do costume. De súbito estaco; um nome inesperado surge no ecrã acompanhado de palavras que fogem ao próprio significado: “Sangue doce sangue não tardes”.
No meu sonho a realidade muda, é como se até então estivesse ainda de olhos fechados. O quarto ainda está escuro mas sem saber como já estou de pé em frente do velho espelho rachado. Como não sei o que procuro ali volto-me para ver melhor os números vermelhos que dão vida ao relógio. 00H27 Ainda é cedo; enfim; dirijo-me à casa de banho. Não há nada como um duche gelado em pleno Inverno para me arrancar da letargia. Um olhar rápido ao espelho depois de 5 minutos debaixo do secador diz-me que desista, que o problema está nos meus olhos e no meu cabelo já demasiado comprido. Seja, hoje não tenho pachorra para isto, faço um rabo-de-cavalo à pressa, visto-me com a primeira roupa que me vem à mão, agarro no blusão de ganga e saio. Desço as familiares escadas sem acender a luz e insulto em surdina a vizinha parva que regressa a casa a esta hora e me obriga a fechar os olhos ao brilho das lâmpadas.
No meu sonho o frio vento… (Continua)
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